Estima-se que a extinção de espécies em âmbito global tenha atingido um nível no mínimo 1.000 vezes maior que os índices históricos. O ritmo de extinção é provavelmente bem mais acelerado que o ritmo da ciência na identificação e descrição de novas espécies; por exemplo, a ciência ainda desconhece de 10 a 20% das atuais espécies de angiospermas (Scheffers et al., 2012). Diamond (1989) atribuiu a extinção de espécies por atividades antrópicas ao “Quarteto Diabólico”(“Evil Quartet”): destruição de hábitat, sobrematança, introdução de espécies exóticas e cadeias de extinção. Os indícios contundentes e sobrepujantes de mudança climática nos últimos anos e sua ameaça à biodiversidade (Thomas et al., 2004) transformam o “quarteto” de Diamond em “quinteto”. Embora os efeitos sinérgicos entre esses cinco elementos desencadeadores possam representar uma ameaça ainda maior às espécies (Brook et al., 2008), a conversão de ecossistemas naturais – e consequente destruição de hábitat – costuma ser apontada como o principal desencadeador da extinção de espécies (Baillie et al., 2004).

A mudança no uso da terra é motivada pelas necessidades da sociedade, que muitas vezes resultam de uma combinação de consumo não sustentável nos países desenvolvidos e da persistência da pobreza no mundo em desenvolvimento (MEA, 2005). Desse modo, parece haver uma barganha histórica entre o desenvolvimento socioeconômico e a conservação da natureza, barganha essa claramente não sustentável, posto que as pessoas precisam da natureza para prosperar. A estabilidade climática, o fornecimento de água com qualidade e em quantidade, a segurança alimentar, a diversidade cultural, a saúde humana etc. são todos serviços naturais, que dependem da existência de biodiversidade (McNeely et al., 2009). Como tais serviços ecossistêmicos são pré-requisitos para a sobrevivência e o bem-estar dos seres humanos, conclui-se que a humanidade depende diretamente da biodiversidade e não vice-versa (ver Scarano e Garbin, 2013).

O reconhecimento de que o desenvolvimento precisa de uma mudança de paradigma ganhou ímpeto com a reunião da Rio+20 da ONU, em junho de 2012, mas ainda existe uma considerável lacuna entre o discurso e a prática política (Scarano et al., 2012a). Até o momento, os governos, em sua maioria, não conseguiram assegurar práticas mais sustentáveis em seus países, e a emissão de carbono, a degradação do ecossistema e a fome atingiram um patamar mais elevado que nunca. Paralelamente, o setor privado só tem admitido com extrema morosidade a necessidade de sustentabilidade ao mesmo tempo em que reconhece seus rastros – sem dúvida alguma vultosos, considerando-se que ele responde por 60% do PIB do planeta e pela maior parte dos produtos consumidos pela sociedade (Sukhdev, 2012). Essas mudanças no uso da terra ocorreram de tal forma a levar à existência de 35 hotspots de biodiversidade no mundo, ou seja, de lugares com grande diversidade de espécies e altos níveis de endemismo, com percentual elevado de perda de hábitat (Mittermeier et al., 2011).

Há dois deles no Brasil: a Mata Atlântica e o Cerrado. Nesse meio tempo, o desenvolvimento tradicional vem representando uma ameaça para algumas das vastas extensões de áreas silvestres do planeta, com frequência consideradas as novas fronteiras de expansão econômica. A Amazônia é provavelmente um dos exemplos mais contundentes: entre 1996 e 2005, o Brasil desmatou anualmente 19.500 km2 (Nepstad et al., 2009). Entre 2005 e 2009, o desmatamento caiu 36%, uma queda relacionada em parte à rede de áreas de proteção, que abarca hoje em dia aproximadamente 45,6% do bioma no Brasil (Soares-Filho et al., 2010). No entanto, as estimativas de extinção de espécies de plantas na Amazônia vão de 5% a 9% até 2050, com redução de hábitat de 12% a 24% (Feeley e Silman, 2009) a 33% até 2030 (Hubbell et al., 2008). Esse é, de fato, um dos exemplos do efeito sinérgico entre os desencadeadores de extinção mencionados acima: o desmatamento tropical é o segundo maior desencadeador de mudanças climáticas no planeta, aumentando de 17 a 20% o total de emissões de gases do efeito estufa ao longo dos anos 1990 (Gullison et al., 2007; Strassburg et al., 2010).

Fonte: MITTERMEIER, R.; SCARANO, F. Ameaças globais à biodiversidade de plantas. G. Martinelli & MA Moraes. Livro vermelho da Flora do Brasil, v. 1, p. 20-26, 2013.

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